19 de agosto #DiaNacionalDoCiclista #cicloolhar


19 de agosto (Dia Nacional do Ciclista) faz parte do calendário oficial brasileiro desde 2018, após aprovação no Congresso Nacional, segundo informações contidas no site do Senado Federal. O dia é uma homenagem ao ciclista Pedro Davison que morreu em 19 de agosto de 2006, em Brasília, depois de ser atropelado por um motorista que dirigia em alta velocidade e embriagado.

“A proposta de criação da data também é para incentivar o respeito ao ciclista e o uso da bicicleta nos deslocamentos diários”, mesmo com a criação de uma data nacional, que nasce marcada por um crime contra a vida humana, quando se assume o risco de produzir a morte. Infelizmente, Pedro(s) ciclistas anônimos/as, invisíveis, com e sem nomes, continuam sendo atropelados/as e mortos/as em todo o território nacional, onde são raras as cidades que possuem políticas públicas voltadas para o ciclismo.

Segundo informações do site alagoano, Tribuna Hoje, de junho de 2023, citando informações do DataSUS, ferramenta do Ministério da Saúde, “em uma década (2012-2022), o número de internações de ciclistas envolvidos em acidentes cresceu 71%. Em 2012, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 8.831 hospitalizações com esse perfil e, no ano passado, 15.098. Dez anos atrás, 205 pessoas perderam a vida. Em 2022, foram 316 óbitos, já neste ano, até março, o SUS contabilizou 3.543 internações e 74 pessoas morreram”.

Diante dos números e das nossas vivências como ciclistas, naquilo que testemunhamos cotidianamente, em pedaladas, giros ou a caminho das trilhas, indistintamente na condição de (ciclista) podemos afirmar que 19 de agosto(s) é o Dia Nacional dos Ciclistas Atropelados, Sobreviventes, Sequelados, Mortos e Vítimas em Potencial.

Demos um google, pedalamos pelos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, trilhando por sites de notícias, realizamos uma pesquisa básica em busca de noticias do ano de 2023, envolvendo atropelamentos e mortes de ciclistas, em cada uma das unidades da federação, para nossa pedalada de reflexão e memória. Iniciaremos nossa ciclo(reflexão) pela região nordeste, em Jequié, município baiano, onde vivo e ando de bicicleta, localidade com mais de 150 mil habitantes, (considerada a cidade mais violenta do Brasil, segundo o anuário/julho de 2023, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública)


(Região Nordeste) Bahia: Ilma Cristina, 54 anos, Wilson Rios, 64 anos, “Ciclista da bike azul”. Três ciclistas atropelados e mortos este ano em Jequié, Alagoas: João Vicente da Silva, 56 anos. “Ciclista morre atropelado a caminho do trabalho na AL-101 Norte”, Ceará: “Uma ciclista de 36 anos”. “Ciclista morre atingida por caminhão em Quixadá, no interior do Ceará”, Maranhão: “Um ciclista de 32 anos”. “Ciclista morre atropelado ao bater em caminhonete na BR-135 no MA”, Pernambuco: Pedro José da Silva, 57 anos. “Motorista de ônibus atropela ciclista, arrasta poste e bate em borracharia; vítima morreu”, Paraíba: Josivaldo da Silva Pereira, 54 anos. “Ciclista morre após ser atropelado na BR-230, próximo a São Mamede, no Sertão”, Piauí: Luís de Sales Souza Filho, 48 anos. “Ciclista de 48 anos morre após ser atropelado por carro no litoral do Piauí”, Rio Grande do Norte: “Um ciclista morreu”. “Ciclista morre atropelado por caminhão em rotatória na Zona Oeste de Natal”, Sergipe: Rare Oliveira Paixão, 35 anos. “Ciclista morre após ser atropelado na Zona Sul de Aracaju”

 
"Bicicleta embaixo do caminhão, após acidente em Natal - RN" — Foto: Lucas Cortez/Inter TV Cabugi

(Região Norte) Acre: Antônio José Lima Silva, 26 anos. “Ciclista morre após colidir contra caminhonete em ladeira de Cruzeiro do Sul”, Amapá: “Um homem, ainda não identificado”. “Ciclista morre após colisão com caminhonete na Zona Sul de Macapá”, Amazonas: Firmino da Conceição Silva, 50 anos. “Ciclista morre a caminho do trabalho após ser atropelado por picape, em Manaus”, 08/2022, Pará: “Um ciclista de 45 anos”. “Ciclista morre no PSM após ser atropelado por caminhonete na BR-163”, Roraima: Geober Alexander Torrealba Ortunez, 43 anos. “Ciclista morre atropelado na RR-205, em Boa Vista”, Rondônia: “Um ciclista de 35 anos”. “Ciclista morre após ser atropelado por carro na Zona Leste de Porto Velho”, Tocantins: Itamar de Moura, 44 anos. “Motorista de caçamba atropela ciclista, foge e depois liga para polícia; vítima morreu no hospital”.

 
"Ciclista morreu após ser atropelado por carro em Porto Velho - RO" — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

(Região Centro-Oeste) Distrito Federal: “Um ciclista, de 53 anos”. “Ciclista que entregava comida por aplicativo morre após ser atropelado no Eixão, em Brasília”, Goiás: “Um ciclista morreu”. “Ciclista morre atropelado por motorista que fugiu sem prestar socorro na BR-153, diz concessionária”, Mato Grosso: Antônio Marcos Silva Alves, 41 anos. “Ciclista morre após ser atropelado por motorista sem habilitação em MT”, Mato Grosso do Sul: Wyllyan Caldeira,18 anos. “Motorista abre porta de carro, e ciclista morre ao ser arremessado para baixo de ônibus em Campo Grande”.

 
Mato Grosso, "motorista que dirigia uma picape Fiat Todo não têm habilitação" — Foto: Portal Campo Novo

(Região Sudeste) Espírito Santo: “Um ciclista de 35 anos”. “Ciclista que saía do trabalho morre atropelado na BR-101 na Serra, ES”, Minas Gerais: Welbert de Souza Abreu, 20 anos. “Ciclista morre após ser atropelado por caminhão, em Curvelo”, Rio de Janeiro: Almir Monsato. 59 anos. “Ciclista morre após ser atingido por carro na BR-101”, São Paulo: José Manoel Souza. “Ciclista de 51 anos morre atropelado na rodovia em Pontal, SP”.

(Região Sul) Paraná: Gabriel Vilarinho Matoso, 20 anos. “Ciclista de 20 anos morre atropelado por caminhão em Maringá”, Rio Grande do Sul: Pedro Moisés Fagundes da Silva, 63 anos. “Câmera de segurança registra momento de acidente que matou ciclista em Passo Fundo”. Santa Catarina: “Um ciclista idoso”. “Ciclista idoso morre após ser atropelado por caminhonete em SC”.

Diante de tantos/as compatriotas, irmãos e irmãs no ciclismo, que tombaram e, infelizmente, tombarão andando de bicicleta, veículo universal que nos faz iguais na mobilidade e fragilidade da vida, em um trânsito que reflete a nossa imagem como sociedade cada vez mais violenta e omissa.

Pedalar é um ato político e consequentemente de coragem, andar de bicicleta no Brasil, lamentavelmente, é correr risco de vida, se nós (cidadãos/ãs ciclistas) não exercermos cidadania, pressão social local, estadual e federal, mobilização, (empatia). Continuaremos na trilha da omissão, inimigos/as de nós mesmos/as (do bem comum) inimigos/as da simplicidade da bicicleta e do ciclismo humanizado.

Quantos km de ciclofaixas, ciclovias e ciclorotas existem na cidade onde você pedala?

Existem bicicletários públicos, placas e leis pró-ciclismo na sua cidade?

Ciclistas já morreram atropelados ou ficaram feridos na cidade onde você vive?

O seu grupo de ciclismo está exigindo das autoridades locais, políticas públicas para o ciclismo?

Grupos de ciclismo que não exercem cidadania estão completamente omissos, anestesiados diante da realidade do ciclismo local, desconhecem o papel histórico da bicicleta e do ciclismo, estão perdidos na trilha com pneu estourado,  é a rota desgastada dos falsos coletivos e seus/suas ciclistas de plásticos.

 
Três ciclistas atropelados e mortos este ano (2023) em Jequié - Bahia

O giro é simples e reto. Somos todos/as vítimas em potencial.

“A indiferença é perigosa, seja inocente ou não”. Papa Francisco

Dado Galvão é ciclista e documentarista, idealizador do Movimento @cicloolhar  

agosto/2023.