Jequié: Os ciclistas invisíveis e as cores da morte. #cicloolhar

 
Licitação foi publicada no Diário Oficial de Jequié em maio deste ano – Foto: Reprodução/Prefeitura de Jequié.
 
A cidade dos ciclistas invisíveis e das plaquinhas de papelão, infelizmente,  "é considerada a mais violenta do Brasil, de acordo com o levantamento do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de julho de 2023.

Por lá, são registrados 88,8 homicídios por 100 mil habitantes. A Bahia é também o estado mais violento, abrigando 11 dos 20 primeiros município da lista". (Assista aqui, Promessas Esquecidas).
 
É notório e visível o grande número de seres humanos de todas as idades e estratos sociais que andam de bicicleta cotidianamente em ruas e estradas do município baiano.

Em 2023, três ciclistas foram atropelados e mortos quando andavam de bicicleta. No mês de Janeiro, Ilma Cristina de 54 anos e Wilson Rios de 64 anos, recentemente, 17 de julho, um ciclista que pedalava em uma bicicleta de cor azul, foi atropelado e também morreu. Abaixo para nossa reflexão, descrevemos na íntegra nota da Polícia Militar, divulgada em meios de comunicação local. 
 

Segundo o condutor do veículo Fiat Pálio, o mesmo transitava na referida via quando se deparou com a vítima que conduzia uma bicicleta cor azul e veio atravessar na frente do seu veículo Fiat Pálio, cor verde não dando tempo de desviar, vindo a colidir com o mesmo. Após o SAMU constatar o óbito, de imediato foi acionado do DPT e o guincho para levantamento cadavérico e a condução do veículo.

Foi dada voz de prisão ao condutor do veículo depois de verificar que o mesmo não possuía Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Em seguida o condutor foi conduzido para delegacia e apresentado à autoridade competente”. 
 

Como ciclistas e cidadãos/ãs continuamos sendo tratados, vistos de forma invisível, falta senso de dignidade, sensibilidade humana, é violência em variados formatos, até mesmo quando são emitidas e reproduzidas notas informativas, cores substituem nomes de seres humanos, assim temos mais uma narrativa de um corpo sem vida de um ciclista, estendido no chão.

Silêncio condicionado, disciplinado, uniforme, cidadania do pneu furado (como sempre) dos supostos coletivos locais de ciclismo. Afinal, já temos o apoio da administração local para os próximos cicloturismos.

Prefeito, vereadores permanecem bem localizados sem risco de serem atropelados, pedalam com bons salários, muitos assessores e a estrutura do estado, “deitados eternamente em berço esplêndido”. Sem pressão social de quem infelizmente será a próxima vitima, ciclistas pobres ou ricos, negros ou rosas!

Não importa se você é um/uma ciclista (aquele/la que tem uma bicicleta legal, capacete, participa de grupos, vai para cicloturismos) ou um/uma bicicletista (aquele/la que geralmente pedala por necessidade, não possui condições para comprar ou não utiliza acessórios de segurança e possui uma bicicleta básica). Somos invisíveis e (sem exceção) podemos virar estatística ou uma nota informativa descrita por cores, o valor da nossa bicicleta e dos nossos equipamentos não nos protege de um trânsito violento, reflexo de velhas e renovadas raízes preconceituosas da nossa sociedade, que são reproduzidas na seara ciclística. 
 
Foto: corpo de um ciclista morto, coberto com uma manta térmica deixada pelo SAMU,  após ser atingido por um carro na Avenida Jequitibá, Baixa do Bonfim, próximo ao Parque de Exposições de Jequié, na noite de segunda-feira (17)

Jequié continua como a maioria das cidades brasileiras, de porte semelhante, com omissão de políticas públicas para o ciclismo.

Chega de levantar os pneus dianteiros das bicicletas para o caixão passar no corredor de bicicletas suspensas, emocionando os presentes e internautas. Vamos exercer cidadania na prática em defesa do bem comum, antes do próximo velório ciclístico.
 
Dado Galvão é ciclista e documentarista, idealizador do Movimento @cicloolhar 
 
julho/2023