Estudantes idealizadores do projeto, Profª Karla Pedroza, segura uma pochete ou bolsa de cintura, que é acoplada ao quadril do ciclista, dentro da bolsa é montado o dispositivo.
Estudantes da rede pública de educação do Colégio Estadual Paulo Freire, de Jequié, no interior baiano, desenvolveram um dispositivo de segurança para ciclistas. Embasados pelo CTB (Código Brasileiro de Trânsito) Art. 201, que descreve, “deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinquenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta: Infração - média; Penalidade – multa”.
Orientados pela ciclista e professora mestra em física, Karla Pedroza Oliveira, os estudantes do 1° ano do ensino médio, Arthur Vieira, Daniel Aguiar Oliveira e Maria Eduarda de Araújo, desenvolveram um dispositivo eletrônico anexado a uma pochete ou bolsa de cintura, que é acoplada ao quadril do ciclista, produzindo vibrações sempre que um veículo desrespeitar a distância lateral recomendada pelo CTB.
Segundo os estudantes, “o dispositivo pode contribuir para evitar acidentes de trânsito envolvendo ciclistas, além de promover confiança e segurança para aqueles que desejam pedalar e são desencorajados pelos perigos do trânsito e falta de estruturas ciclísticas”.
Protoboard do dispositivo apresentado pelos estudantes, uma placa de ensaio que serve como um protótipo de um aparelho eletrônico, com uma matriz de contatos que possibilita construir circuitos de teste sem que haja necessidade de solda.
O projeto foi selecionado na fase territorial para participar da etapa final da 11° FECIBA (Feira de Ciências, Empreendedorismo Social e Inovação da Bahia) promovida pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, que será realizada de 11 a 15 de dezembro, em Salvador, capital baiana. A feira visa promover a popularização da ciência por meio da apresentação dos projetos de investigação científica desenvolvidos por estudantes e professores.
Karla ressaltou que pretende juntamente com os estudantes, realizar na 11° FECIBA, uma homenagem em memória dos quatros ciclistas que foram atropelados e mortos este ano em Jequié. “Uma das vítimas, Ilma Cristina, esmagada por um caminhão caçamba, em janeiro de 2023, quando pedalava na Avenida César Borges, era funcionária pública e trabalhava no colégio onde leciono, Ilma morreu na avenida onde está localizado o nosso colégio”, evidenciou a professora.
Jequié possui mais de 150 mil habitantes, conforme o último censo do IBGE, conta com apenas 6 km de ciclofaixa, é considerada a cidade mais violenta do Brasil, segundo o levantamento do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Recentemente (23/11) o presidente Lula, sancionou a (Lei n° 14.729) o texto amplia a participação popular nos processos de implantação de infraestruturas para circulação de bicicletas e exige planejamento dos municípios para ampliar o perímetro urbano, além de incentivar o ciclismo nas cidades.
Este ano o Movimento Ciclo-Olhar, em alusão (10/12) ao dia internacional da (Declaração Universal dos Direitos Humanos), data refletida pelo movimento há quatro anos, com a realização de concursos culturais de foto(grafias) optou por homenagear na sua 5° edição, a iniciativa estimulada pela professora Karla, concedendo-lhe uma singela homenagem, com entrega de uma plaquinha e camisa do movimento.
Ciclista e professora mestra em física, Karla Pedroza Oliveira, recebeu camisa e plaquinha do Movimento @cicloolhar pela pedalada concreta de educ(ação) em alusão ao dia Internacional dos Direitos Humanos, refletido pelo movimento desde 2019.
“Toda pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam”. Art. 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, contudo, ainda há uma longa pedalada para que a ciência e a cultura da bicicleta sejam usufruídas plenamente com segurança e como um direito para todos/as.
Dado Galvão é ciclista, documentarista, idealizador do Movimento @cicloolhar
(...) O documentarista Dado Galvão, idealizador do Movimento Ciclo-Olhar, mora em Jequié (BA), cidade apontada pelo Anuário de Segurança Pública de 2023 como a mais violenta do Brasil. Ele destaca a violência no trânsito como um grande desafio para a sociedade. Em 2023, foram três ciclistas mortos nesse contexto.
"Cada cidade, cada localidade, tem uma realidade diferenciada. No Norte e no Nordeste, a bicicleta é vista como transporte de pobre, de gente mal-sucedida. E continua sendo assim", explicou Dado Galvão. "É preciso implementar diálogo, pesquisa e debate sobre esse assunto. São coisas muito simples, mas, na minha avaliação, falta boa vontade", concluiu.
O Movimento Ciclo-olhar, fixou (28/10) mais uma bicicleta em memória, protesto e para reflexão na Avenida César Borges, em Jequié - Bahia. A bicicleta foi doada pela família do ciclista (Edilzo Souza Lima) conhecido popularmente como “Nego”, diácono evangélico, morador do bairro do KM 3, foi atropelado por um caminhão caçamba, quando andava de bicicleta retornando do trabalho, na estrada da Fazenda Velha, nas proximidades de um motel, segundo familiares, morreu lutando pela vida, em (16/10) no HGPV - Hospital Regional Prado Valadares. A bicicleta danificada pelo impacto do atropelamento foi pintada de amarelo e fixada com correntes, no suporte de uma placa de sinalização, no mesmo local onde o movimento fixou (13/9) uma bicicleta de cor azul e três cruzes, em alusão aos ciclistas atropelados e mortos em Jequié, este ano. Agora são quatro cruzes e mais uma bicicleta amarela para simbolizar o espírito de juventude, fé e trabalho, deixado por “Nego”, que pedalava cotidianamente há mais de 30 anos, e possuía uma boa saúde.
Foram fixadas também no local placas artesanais confeccionadas pela cicloativista Jil Bike, que alertam: “Prefeito e vereadores, ciclista também é gente”, este ano em Jequié, 4 ciclistas atropelados e mortos”. Mesmo existindo uma visível tendência de mais acidentes e mortes envolvendo ciclistas, não existem ações concretas pré-ciclismo por parte do executivo e legislativo municipal, para preservar vidas, além de um convivente silêncio dos grupos de ciclismo local.
Jequié possui mais de 150 mil habitantes, conforme o último censo do (IBGE) é considerada a cidade mais violenta do Brasil, segundo o levantamento do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Morreu segunda-feira (16/10) no HGPV - Hospital Regional Prado Valadares, em Jequié - Bahia, o ciclista e diácono evangélico da Igreja Shema, (Edilzo Souza Lima) conhecido carinhosamente como ("Nego") de (63 anos de idade), morador da Rua Francisco Pereira, no bairro popular do km 3.
O ciclista, que era muito religioso, pedalava há mais de 30 anos, foi atropelado por um caminhão caçamba, quando andava de bicicleta retornando do trabalho, na estrada da Fazenda Velha, nas proximidades de um motel, após a semana nacional de trânsito, que aconteceu entre os dias 18 e 25 de setembro.
Segundo informações dos familiares, ouvidos pelo Movimento Ciclo-olhar, "Nego" deu entrada no HGPV, na última semana do mês de setembro, com vários traumas pelo corpo, passando por cirurgias na coluna, em seguida, contraiu infecção.
Um boletim de ocorrência foi registrado pela família da vítima, que deixa 4 filhos, o motorista que conduzia o veículo de propriedade de uma empresa local do ramo de biscoitos, foi identificado pelas autoridades.
O corpo foi velado na Igreja Assembleia de Deus, no km 3, e será sepultado hoje (17/10) no Cemitério do Povoado de Santa Clara, zona rural de Jequié.
É o segundo ciclista atropelado e morto em 2023, na estrada da Fazenda Velha, região bastante frequentada por ciclistas, principalmente nos finais de semana, por ser um dos acessos para a barragem de pedras, ao longo da estrada também existem muitos bares. Em janeiro deste ano, Wilson Rios (64 anos) morreu quando pedalava na mesma região, o motorista fugiu do local e não foi identificado.
Este ano (quatro) ciclistas já foram atropelados e mortos em Jequié, quando andavam de bicicleta. Na cidade de mais de 150 mil habitantes, considerada a mais violenta do Brasil, pelo 17° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, não existem políticas públicas pró-ciclismo.
Conhecida como Cidade do Sol, Jequié, no sudoeste da Bahia, chama atenção por suas belezas naturais, com espaços propícios para pedaladas. Um empecilho à melhor exploração desta atividade no município, no entanto, é a falta de políticas públicas voltadas à segurança dos ciclistas na região.(VEJA MAIS AQUI, METRO1)
O idealizador do movimento Ciclo Olhar, Dado Galvão, critica a gestão municipal por, segundo ele, inviabilizar a causa em defesa dos ciclistas na cidade. “O que acontece aqui, em Jequié, serve de exemplo para não ser seguido em todo o Brasil. Nós vivenciamos a semana nacional do trânsito que foi voltada somente para o atropelamento de animais, não que não precise ter, mas as ocorrências com atropelamento de ciclistas também merecem atenção”, afirma à AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA.
Conteúdo do vídeo: Bahia Meio-dia, TV Sudoeste/Rede Bahia/TV Globo. Apresentação: Judson Almeida, edição de 22/09/23.
A nota da Prefeitura Municipal de Jequié, enviada ao jornalismo da TV Sudoeste (é desumana, construída com desonestidade intelectual, faltando com a verdade, distorcendo fatos que são públicos)
Convidamos você, para pesquisar e fazer uma checagem sobre o tema, aqui no blog do Movimento Ciclo-olhar. Estamos à sua disposição para esclarecer qualquer dúvida, dialogar sobre o tema na sua escola, grupo, comunidade.
Nossa solidariedade aos familiares que perderam seus entes queridos, vítimas da violência, morreram em Jequié, simplesmente atropelados, quando andavam de bicicleta.
Ilma Cristina, presente em nossas pedaladas!
Wilson Rios, presente em nossas pedaladas!
"O ciclista da bike azul, Domingos", presente em nossas pedaladas!
Bicicleta de cor azul, fixada com corrente, quarta-feira 13, Av. César Borges em Jequié (BA) – Foto: Movimento @cicloolhar
Violências.
A cidade baiana de Jequié, que possui mais de 150 mil habitantes, conforme o último censo do IBGE. É considerada a mais violenta do Brasil, segundo o levantamento do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Há mais de 350 km de Salvador, capital dos baianos, no município de Jequié, são registrados 88,8 homicídios por 100 mil habitantes. A Bahia é também o estado mais violento.
Ciclistas atropelados e mortos.
Este ano (2023) três ciclistas foram atropelados e mortos quando andavam de bicicleta, no mês de Janeiro, (Ilma Cristina de 54 anos) e (Wilson Rios de 64 anos) em 17 de julho, um ciclista que pedalava em uma bicicleta de cor azul, foi atropelado e também morreu. Na nota divulgada pela Polícia Militar e reproduzida pela imprensa local o ciclista foi identificado como "uma vítima que conduzia uma bicicleta cor azul”.
Em novembro de 2015, o Movimento @cicloolhar já alertava sobre mortes violentas em Jequié, com uma ciclopeformance fotográfica, realizada no cemitério do Curral Novo– Foto: Dado Galvão, Movimento @cicloolhar (VEJA MAIS FOTOS AQUI)
Plaquinhas de papelão, cidadania pró-ciclismo.
Uma iniciativa cidadã e necessária, que começou no anonimato, em setembro de 2020, tempo de pandemia, realizada pela cicloativista Jilmara Gonçalves “Jil bike”, um grito anônimo em forma de placas artesanais de papelão, fixadas em um poste de iluminação e no suporte de logradouros, exigindo políticas públicas para o ciclismo.
O executivo municipal logo respondeu, prometendo (sem dialogar com os ciclistas e coletivos) a construção de 6 km de “ciclovia”, na Avenida César Borges, que é bastante utilizada pelos munícipes para práticas esportivas. Doravante, mesmo com a publicação do aviso de licitação no diário oficial do município, em maio deste ano, promessa de “ciclovia”, virou promessa de 6 km de “ciclofaixa”, sem nenhum comunicado oficial da administração municipal sobre o porquê da assustadora desconformidade, alardeada pelo prefeito em suas redes sociais no Dia Nacional do Ciclismo.
Licitação foi publicada no Diário Oficial de Jequié em maio de 2021 – Foto: Reprodução/Prefeitura de Jequié
Sem respostas do executivo e legislativo local.
Muitas ruas de Jequié, estão sendo asfaltadas, praças sendo construídas ou reformadas (sem bicicletários) a gestão municipal e muitos(as) celebram como progresso, além da colocação de uma nova, “moderna” sinalização de trânsito, que ainda infelizmente não contempla/enxerga o ciclista.
O trânsito local é municipalizado, a zona azul foi implantada, o município arrecada um valor significativo em multas de trânsito e outros impostos relacionados, mesmo com muitos ciclistas fazendo parte do trânsito cotidiano de Jequié, nada até agora, por parte do executivo ou legislativo para promover políticas públicas pró-ciclismo.
São 19 vereadores/as na Câmara Municipal de Jequié, é raro debates, proposições concretas, legislação pró-ciclismo.
Silêncio profundo dos grupos de ciclismo local.
Mesmo diante da violência que vitimou este ano três ciclistas e diante dos relatos de situações de perigo no trânsito, os grupos de ciclismo local, não se mobilizam para exigir do prefeito e vereadores, ações concretas.
É muito comum ouvir de lideranças dos grupos que a bicicleta é só para praticar “esporte, lazer, bike terapia, não é uma questão de política”. Ressaltamos que os coletivos são formados por pessoas de todos os estratos sociais e com influência na sociedade local.
Grupos de ciclismo que não exercem cidadania estão completamente omissos, anestesiados diante da realidade do ciclismo local, desconhecem o papel histórico da bicicleta e do ciclismo, estão perdidos na trilha com pneu estourado. Podemos denominar de Ciclismo Robocop ou ciclistas de plástico.
Ciclistas precisam enxergar ciclistas. É necessário que os grupos de ciclismo local exerçam papel coletivo de cidadania e pressão social, exigindo políticas públicas, leis, incentivo para os usuários de bicicletas, com ou sem uniforme, com ou sem capacete, da barra circular ao carbono, da fábrica ao cicloturismo, do operário ao doutor. A magrela está em todos os lares e desconhece estratos sociais.
Bicicleta de cor azul.
Em memória dos três ciclistas atropelados e mortos em Jequié, foi fixada com corrente, no suporte de uma placa de sinalização, na Avenida César Borges, uma bicicleta de cor azul, com três cruzes e placas de papelão exigindo políticas públicas pró-ciclismo, ação realizada pelo documentarista e ciclista Dado Galvão (Movimento @cicloolhar) e pela cicloativista Jilmara Gonçalves, na noite de 13 de setembro.
A cor azul foi escolhida em alusão ao “ciclista da bike azul”, atropelado e morto, na Avenida Jequitibá, Baixa do Bonfim, próximo ao Parque de Exposições de Jequié, em 17 de julho.
Cegueira, insensibilidade, falta de diálogo, velhas políticas que nascem nos gabinetes fechados, de cima para baixo, culminância que ignora uma massa cada vez maior de seres humanos usuários de bicicletas.
Três cruzes em memória e para reflexão com os nomes dos ciclistas atropelados e mortos em Jequié, este ano – Foto: Movimento @cicloolhar
O Movimento ciclo-olhar propõe.
Colocação de placas pró-ciclismo nas rotas mais utilizadas pelos ciclistas.
Criação do bicicletário público central, com legislação para que a Guarda Municipal promova a segurança das bicicletas no bicicletário.
Legislação local pró-ciclismo, audiências públicas para implementação de ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas.
Criação da bolsa ciclista para ciclistas que participam de competições esportivas e culturais de âmbito estadual, nacional e internacional.
Por força de lei, criação do dia municipal para realização do cicloturismo, com garantia de recursos permanentes.
Sabemos que a realidade ciclística de Jequié se repete na maioria das cidades brasileiras do mesmo porte da cidade baiana, e nós cidadãos(ãs) que andamos de bicicleta ou não, devemos ser coadjuvantes, exercendo cidadania nas mais variadas causas, para cobrar, exigir mudanças.
A violência acontece das mais variadas formas, de forma velada, silenciosa, inclusive na omissão de políticas públicas para o ciclismo e, qualquer um de nós podemos ser vítimas desta ameaça constante, seja no trânsito ou no nosso giro cotidiano pelo pão nosso de cada dia.
Abaixo, o Movimento Ciclo-olhar disponibiliza um vídeo minuto para reflexão, elaborado pelo documentarista e idealizador do movimento, Dado Galvão. A ideia é estimular o compartilhamento do vídeo nas redes sociais para promover um sentimento de empatia e cidadania pró-ciclismo.
Dado Galvão é ciclista e documentarista, idealizador do Movimento @cicloolhar
19 de agosto (Dia Nacional do Ciclista) faz parte do calendário oficial brasileiro desde 2018, após aprovação no Congresso Nacional, segundo informações contidas no site do Senado Federal.O dia é uma homenagem ao ciclista Pedro Davison que morreu em 19 de agosto de 2006, em Brasília, depois de ser atropelado por um motorista que dirigia em alta velocidade e embriagado.
“A proposta de criação da data também é para incentivar o respeito ao ciclista e o uso da bicicleta nos deslocamentos diários”, mesmo com a criação de uma data nacional, que nasce marcada por um crime contra a vida humana, quando se assume o risco de produzir a morte. Infelizmente, Pedro(s) ciclistas anônimos/as, invisíveis, com e sem nomes, continuam sendo atropelados/as e mortos/as em todo o território nacional, onde são raras as cidades que possuem políticas públicas voltadas para o ciclismo.
Segundo informações do site alagoano, Tribuna Hoje, de junho de 2023, citando informações do DataSUS, ferramenta do Ministério da Saúde, “em uma década (2012-2022), o número de internações de ciclistas envolvidos em acidentes cresceu 71%. Em 2012, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 8.831 hospitalizações com esse perfil e, no ano passado, 15.098. Dez anos atrás, 205 pessoas perderam a vida. Em 2022, foram 316 óbitos, já neste ano, até março, o SUS contabilizou 3.543 internações e 74 pessoas morreram”.
Diante dos números e das nossas vivências como ciclistas, naquilo que testemunhamos cotidianamente, em pedaladas, giros ou a caminho das trilhas, indistintamente na condição de (ciclista) podemos afirmar que 19 de agosto(s) é o Dia Nacional dos Ciclistas Atropelados, Sobreviventes, Sequelados, Mortos e Vítimas em Potencial.
Demos um google, pedalamos pelos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, trilhando por sites de notícias, realizamos uma pesquisa básica em busca de noticias do ano de 2023, envolvendo atropelamentos e mortes de ciclistas, em cada uma das unidades da federação, para nossa pedalada de reflexão e memória. Iniciaremos nossa ciclo(reflexão) pela região nordeste, em Jequié, município baiano, onde vivo e ando de bicicleta, localidade com mais de 150 mil habitantes, (considerada a cidade mais violenta do Brasil, segundo o anuário/julho de 2023, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Diante de tantos/as compatriotas, irmãos e irmãs no ciclismo, que tombaram e, infelizmente, tombarão andando de bicicleta, veículo universal que nos faz iguais na mobilidade e fragilidade da vida, em um trânsito que reflete a nossa imagem como sociedade cada vez mais violenta e omissa.
Pedalar é um ato político e consequentemente de coragem, andar de bicicleta no Brasil, lamentavelmente, é correr risco de vida, se nós (cidadãos/ãs ciclistas) não exercermos cidadania, pressão social local, estadual e federal, mobilização, (empatia). Continuaremos na trilha da omissão, inimigos/as de nós mesmos/as (do bem comum) inimigos/as da simplicidade da bicicleta e do ciclismo humanizado.
Quantos km de ciclofaixas, ciclovias e ciclorotas existem na cidade onde você pedala?
Existem bicicletários públicos, placas e leis pró-ciclismo na sua cidade?
Ciclistas já morreram atropelados ou ficaram feridos na cidade onde você vive?
O seu grupo de ciclismo está exigindo das autoridades locais, políticas públicas para o ciclismo?
Grupos de ciclismo que não exercem cidadania estão completamente omissos, anestesiados diante da realidade do ciclismo local, desconhecem o papel histórico da bicicleta e do ciclismo, estão perdidos na trilha com pneu estourado, é a rota desgastada dos falsos coletivos e seus/suas ciclistas de plásticos.
Três ciclistas atropelados e mortos este ano (2023) em Jequié - Bahia
O giro é simples e reto. Somos todos/as vítimas em potencial.
“A indiferença é perigosa, seja inocente ou não”. Papa Francisco
Dado Galvão é ciclista e documentarista, idealizador do Movimento @cicloolhar
Por lá, são registrados 88,8 homicídios por 100 mil habitantes. A Bahia é também o estado mais violento, abrigando 11 dos 20 primeiros município da lista". (Assista aqui, Promessas Esquecidas).
É notório e visível o grande número de seres humanos de todas as idades e estratos sociais que andam de bicicleta cotidianamente em ruas e estradas do município baiano.
“Segundo o condutor do veículo Fiat Pálio, o mesmo transitava na referida via quando se deparou com a vítima que conduzia uma bicicleta cor azul e veio atravessar na frente do seu veículo Fiat Pálio, cor verde não dando tempo de desviar, vindo a colidir com o mesmo. Após o SAMU constatar o óbito, de imediato foi acionado do DPT e o guincho para levantamento cadavérico e a condução do veículo.
Foi dada voz de prisão ao condutor do veículo depois de verificar que o mesmo não possuía Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Em seguida o condutor foi conduzido para delegacia e apresentado à autoridade competente”.
Como ciclistas e cidadãos/ãs continuamos sendo tratados, vistos de forma invisível, falta senso de dignidade, sensibilidade humana, é violência em variados formatos, até mesmo quando são emitidas e reproduzidas notas informativas, cores substituem nomes de seres humanos, assim temos mais uma narrativa de um corpo sem vida de um ciclista, estendido no chão.
Silêncio condicionado, disciplinado, uniforme, cidadania do pneu furado (como sempre) dos supostos coletivos locais de ciclismo. Afinal, já temos o apoio da administração local para os próximos cicloturismos.
Prefeito, vereadores permanecem bem localizados sem risco de serem atropelados, pedalam com bons salários, muitos assessores e a estrutura do estado, “deitados eternamente em berço esplêndido”. Sem pressão social de quem infelizmente será a próxima vitima, ciclistas pobres ou ricos, negros ou rosas!
Não importa se você é um/uma ciclista (aquele/la que tem uma bicicleta legal, capacete, participa de grupos, vai para cicloturismos) ou um/uma bicicletista (aquele/la que geralmente pedala por necessidade, não possui condições para comprar ou não utiliza acessórios de segurança e possui uma bicicleta básica). Somos invisíveis e (sem exceção) podemos virar estatística ou uma nota informativa descrita por cores, o valor da nossa bicicleta e dos nossos equipamentos não nos protege de um trânsito violento, reflexo de velhas e renovadas raízes preconceituosas da nossa sociedade, que são reproduzidas na seara ciclística.
Foto: corpo de um ciclista morto, coberto com uma manta térmica deixada pelo SAMU, após ser atingido por um carro na Avenida Jequitibá, Baixa do Bonfim, próximo ao Parque de Exposições de Jequié, na noite de segunda-feira (17)
Jequié continua como a maioria das cidades brasileiras, de porte semelhante, com omissão de políticas públicas para o ciclismo.
Chega de levantar os pneus dianteiros das bicicletas para o caixão passar no corredor de bicicletas suspensas, emocionando os presentes e internautas. Vamos exercer cidadania na prática em defesa do bem comum, antes do próximo velório ciclístico.
Dado Galvão é ciclista e documentarista, idealizador do Movimento @cicloolhar
Quando olho a nossa (Casa Comum) cada vez mais quente, parecendo uma fogueira de São João.
Eu pergunto ao ciclista lá do céu, “por que tamanha judiação”.
Um calor cada vez mais anormal, desmatamento, inundações, ganância, injustiças, corrupção e poluição. Por falta d’água perdemos a trilha, o giro, onde ganhávamos o pão, faltam turistas, ciclistas, não temos trabalho, o verde está cada vez mais carecido, “morreu de sede meu alazão”.
Até mesmo Asa Branca o ciclista retirante, vendeu sua bike e foi embora do sertão. Adeus “rosinha” minha magrela, “guarda contigo meu coração”.
“O Caminho das Nuvens” estrada onde muitos/as pedalam e sonham com um roteiro de “cinemista”. Sou o Wagner Moura, andando de bicicleta, sou a Cláudia Abreu girando de bike.
“Hoje longe, muitas léguas”, numa triste confusão, escassez de cidadania, labuta com salário digno, justiça, empatia e representação, sem ciclofaixas, ciclovias, placas de sinalização, sem espaço para “rosinha”, sou ciclista na solidão.
Com uma bag/mochila nas costas, celular na mão e uma “rosinha” alugada, dizem que virei um trabalhador, retirante dos tempos modernos, (ciber-operário). Espero entregar muitos pedidos, para comer e sobreviver, “juntar dinheiro pra mim voltar pro meu serão”.
Quando o verde da vida for prioridade de fato e se espalhar na plantação onde se cultiva a disputa entre capital, poder, vida e razão. “Eu te asseguro não chore não viu, que eu voltarei, viu meu coração”.
Em tempo de festas juninas comemoradas especialmente no nordeste do Brasil, (região muito carente) onde os poderes públicos esbanjam recursos financeiros, contratando grandes nomes da música nordestina e brasileira, é sempre bom repetir aquele velho vinil arranhado que toca há anos na radiola de agulha empenada. Como seria tão benéfico se Vossas Excelências tivessem o mesmo empenho para gastar com o básico, aquilo que está expresso em nossa constituição cidadã.
A Casa Comum do sul ao norte arde pelo direito à vida, saúde, trabalho, educação, segurança, transporte público sustentável, políticas públicas para quem anda de bicicleta cotidianamente, cultura e lazer.
Os festejos juninos devem ser preservados, festejados na sua essência, valorizando a cultura e o artista local, sem gastanças faraônicas ou aquele repetido marketing que tenta nos fazer crer que estamos diante de um investimento para o bem da coletividade.
Para que o forró seja dançado por todos/as é preciso simplicidade e equilíbrio, é como andar de bicicleta ou voar ao som de Asa Branca, cantada e pedalada pelo rei do baião Luiz Gonzaga.
Uma loja de roupas no Centro de Jequié - Bahia, exibe na vitrine um quadro de Luiz Gonzaga, pintado pelo artista local (Luciano Lelis). O São João movimenta o comércio regional, foto: @dadogalvao - @cicloolhar junho/2023.
CicloReflexão inspirada na música Asa Branca, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Sugerimos que utilizem o texto e o filme “O caminho das Nuvens” para (CicloConversas) na escola, comunidade ou coletivos de ciclismo, pré e pós festas juninas.
Dado Galvão é ciclista, documentarista e idealizador do Movimento @cicloolhar
"Vamos conhecer o Clodoaldo, que por muitas vezes teve sua fé testada, mas em nenhum momento se deixou abater. Após vencer o câncer, ele cumpre a promessa de pedalar todos os anos de Lençóis Paulista até Aparecida do Norte."
Clodoaldo e a pequena Maria Clara. (Foto: arquivo pessoal) #cicloolhar
No Dia Mundial da Bicicleta, palmas aos ciclistas. Data foi escolhida pela ONU para celebrar o veículo mais sustentável, inclusivo e saudável.
Palmas àqueles que insistem em pedalar num mundo dominado pelos carros.
Palmas àqueles que mesmo criados sobre motores, escolheram os pedais.
Palmas àqueles que chegam suados no trabalho e sentem orgulho disso.
Palmas àqueles que acordam um pouco mais cedo para ir de bike.
Palmas àqueles que acordam mais tarde, vão de bike e chegam antes que o carro.
Palmas àqueles que pedalam por amor.
Palmas àqueles que pedalam por necessidade
Palmas àqueles que não podem pedalar, mas ensinam a respeitar quem pedala.
Palmas aos cicloativistas que não temem o podre poder da política rodoviarista.
Palmas aos ciclistas que foram mortos pelo trânsito, muitas palmas.
Palmas a Márcia Prado, a Marina Harkot e a Erika Sallum, que para sempre vão nos inspirar.
Como diz o documentarista jequieense Dado Galvão, "grupos de ciclismo que não exercem cidadania estão completamente omissos, anestesiados diante da realidade do ciclismo local, desconhecem o papel histórico da bicicleta e do ciclismo, estão perdidos na trilha com pneu estourado". Palmas ao Dado, que do sertão da Bahia emana sua mensagem ao mundo.
Palmas para Renata Falzoni, jornalista e vereadora suplente na cidade de São Paulo, que provavelmente tem o mais longo currículo existente em defesa dos pedais. Sua sabedoria nos brinda com o dom da síntese: "bike é legal".
O Dia Mundial da Bicicleta, 3 de junho, é uma data escolhida pela ONU para celebrar o veículo mais sustentável, inclusivo e saudável que a humanidade já criou.`
Fonte: Caio Guatelli, Folha de São Paulo - Ciclocosmo 3/6/2023 às 5h00. Para ter acesso ao conteúdo no site da Folha de São Paulo, você deverá ser assinante.Link para checagem: https://www1.folha.uol.com.br/blogs/ciclocosmo/