No giro da CF 2025: Ciclismo com Fraternidade e Ecologia Integral. #cicloolhar

Imagem: Movimento @cicloolhar 

CNBB

A CF (Campanha da Fraternidade) é organizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), entidade permanente, com sede em Brasília, que reúne os Bispos da Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil, mantendo desde 14 de outubro de 1952, um relacionamento com os diversos segmentos econômicos, sociais, políticos, autoridades civis, públicas e de outras crenças religiosas, em defesa da dignidade humana.

A CF nasceu em 1962, por iniciativa de Dom Eugênio de Araújo Sales, em Nísia Floresta, Arquidiocese de Natal, RN, como expressão da caridade e da solidariedade em favor da dignidade da pessoa humana, dos filhos e filhas de Deus.

O principal objetivo da CF, desde a sua primeira ação, até os dias de hoje, realizada anualmente no tempo da Quaresma, é despertar a solidariedade dos cristãos e da sociedade a respeito de um problema real que atinge a sociedade brasileira, buscando caminhos e soluções para enfrentar e solucionar tais problemas.

Campanha da Fraternidade 2025

Em 2025, a CF trabalhará o tema: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Motivados pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; pelos 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si’; pela recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum; pelos 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM) e pela realização da COP 30, em Belém, no estado do Pará.

Portanto, neste ano, a CF, aborda a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).

Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco, externado na Encíclica Laudato Si', publicada em 2015, e que é tão importante na propagação defendida por Francisco, de um Novo Humanismo Integral. Considerando a integração (em harmonia) entre o ser humano, a natureza e o meio ambiente para preservar a nossa Casa Comum.

Um dos objetivos específicos da CF 2025, é “denunciar os males que o modo de vida atual impõe ao planeta e que tem gerado uma complexa crise socioambiental, dado que em nossa Casa Comum tudo está interligado”.

A identidade visual da CF 2025 é de autoria do Paulo Augusto Cruz, da Assessoria de Comunicação da CNBB. 
(Veja aqui) vídeo explicativos sobre os elementos de composição da identidade visual da CF 2025.

Movimento 

O Movimento @cicloolhar, formado por ciclistas de várias cidades do Brasil, que andam de bicicleta e fotografa, partilhando pedaladas através da hashtag #cicloolhar, defende o ciclismo humanizado, inspirado na simplicidade e universalidade da bicicleta, para estimular o exercício da cidadania através do ciclismo. O movimento nasceu em Jequié, interior baiano, idealizado pelo ciclista e documentarista de inspiração católica, Dado Galvão.

Uma das campanhas do movimento é estimular a doação de capacetes novos ou usados para ciclistas de baixa renda. Você tem um capacete de bike encostado em casa? Ciclista que tem um pouco mais, ajudando ciclista que tem um pouco menos. Além de propor localmente políticas públicas pró-ciclismo, denunciando a morosidade da administração pública local, na implementação de ações concretas que preservam vidas de ciclistas no direito de ir e vir, entendendo a bicicleta como um modal utilizado para o trabalho, lazer ou esporte.

Ciclismo Fraternal

Animados pelo giro da CF 2025, o Movimento @cicloolhar, convida você ciclista, independente da sua crença religiosa ou da sua forma de usar bicicleta, para refletir sobre como podemos por meio de pedaladas/ações concretas, diante da nossa realidade ciclística local, promover o ciclismo fraternal, especialmente no contexto dos coletivos de ciclismo/grupos de pedais.

André Geraldo Soares, já em 2015, um dos organizadores do livro A Bicicleta no Brasil, construído com apoio da Aliança Bike, descreve.

[…] É nesse segmento – a sociedade civil organizada – que devemos reconhecer a causa principal pelo crescimento, ainda tímido, mas perceptível, da bicicleta como meio de transporte e lazer no Brasil contemporâneo. […] (SOARES, 2015, p. 07).

[…] Essa parcela do povo não só pratica a bicicleta, mas a adota como um símbolo de singeleza e de igualdade para nos alertar sobre os deletérios efeitos dos valores e hábitos elitistas – os quais consideram a bicicleta um símbolo de pobreza e de atraso. Não fosse a ação de ciclistas organizados, autodenominados ou não de cicloativistas, a bicicleta jamais teria ganhado visibilidade como alternativa ao caos generalizado do trânsito que, atravancando milhões cotidianamente e matando milhares anualmente, ainda inacreditavelmente se alastra nas médias e grandes cidades. Estas mesmas pessoas e coletivos civis têm influenciado a economia da bicicleta. Novos negócios surgiram em torno da bicicleta, e empresas, mesmo de ramos diversos, têm buscado aliar sua imagem a ela, inclusive apoiando explicitamente sua expansão […] (SOARES, ps. 07, 08).

Levantamento feito pela Aliança Bike, em outubro de 2024, aponta acréscimo de 280 km em estruturas segregadas para bicicletas, atingindo um total de 4.106,8 quilômetros no país. O Brasil deixa a desejar em infraestrutura para quem gosta ou precisa pedalar. As 27 capitais do País totalizam, juntas, pouco mais de 4 mil quilômetros de ciclofaixas e ciclovias (o primeiro equipamento predominante na maioria delas). Além disso, boa parte das capitais não têm sequer 100 quilômetros de estrutura, imagine a realidade de cidades de grande e médio porte espalhadas pelo país.

Os grupos de ciclismo precisam assumir o papel coletivo, cidadão, do cicloativismo, os coletivos são fundamentais para mudar esta pobre realidade, exigindo localmente políticas públicas para quem anda de bicicleta, existe um profundo silêncio e omissão por parte dos grupos, em Jequié, e na maioria das cidades brasileiras.

É muito comum ouvir de lideranças e membros de grupos de ciclismo: “o meu envolvimento com a bicicleta é somente pelo esporte e lazer”. Podemos afirmar que a ideia transmitida, é que o espírito de empatia ciclística só será vivenciado dentro da bolha formada pelos membros daquele grupo específico, que vestem o mesmo uniforme, compartilha as mesmas rotas, enquanto, o ciclista do cotidiano, invisível, aquele que utiliza a bicicleta, quase para tudo no ir e vir, é colocado em uma outra categoria ciclística ou estrato social, que não seria de nossa responsabilidade, os grupos/coletivos de ciclismo.

A cicloativista Jil Bike, coloca placas de papelão nas ruas de Jequié - Bahia, para exigir políticas públicas para o ciclismo local. Contrapondo o silêncio dos coletivos de ciclismo local, um exemplo concreto de ação individual em pró do bem comum. Foto: @cicloolhar

Como ciclistas não podemos "lavar as mãos", conscientes que somos testemunhas dos benefícios promovidos pelo hábito de andar de bicicleta, podemos agir individualmente e (coletivamente) para que existam localmente políticas públicas pró-ciclismo. Isto é um direito conquistado e sancionado em (Lei nº 14.729) pelo presidente Lula, em novembro de 2023, que dá mais incentivo ao uso de bicicletas como meio de transporte. A medida (promove a participação popular) no processo de implantação de infraestruturas destinadas à circulação de bicicletas e determina mais uma orientação aos municípios que pretendem ampliar seu perímetro urbano.

Plaquinha reflexiva do Movimento @cicloolhar inspirada na CF 2025 

A bicicleta é um veículo sustentável, A Organização Pan-Americana de Saúde, braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) nas Américas, destaca que a bicicleta é uma alternativa de locomoção com grandes benefícios para a saúde física e mental. Além disso, auxilia na melhora de indicadores urbanos e ambientais.

Na rota da CF 2025, pegando a trilha da COP 30, é hora de pedaladas concretas (locais) sejam individuais ou coletivas (no lugar onde você vive e pedala) em defesa da implementação de políticas públicas pró-ciclismo, que ajudarão preservar vidas que andam de bicicleta. Ciclovias, ciclofaixas, bicicletários públicos, placas pró-bicicleta, ciclorotas, apoio ao cicloturismo e aos atletas do ciclismo, leis locais de incentivo e proteção ao ciclismo, bicicleta no currículo escolar.

A bicicleta é irmã sustentável, ferramenta universal, que está nas garagens e quintais de ricos e pobres, habitantes da nossa Casa Comum, não existem casas reservas, a única casa que temos, clama pela lógica do cuidado!

Para redes sociais no formato de plaquinha do Movimento @cicloolhar, um minuto do trecho do hino da CF 2025, 

No ritmo e espírito da CF 2025, sugerimos, que leve estas singelas pedaladas, para reflexão e debate no ambiente ciclístico que você está inserido/a. Na mobilidade da fé, em ora(AÇÃO) integrado com o mais profundo sagrado e humano que existe no seu Ciclo-olhar.

“Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado”. (CF 2025)

Para nossa reflexão e inspiração, acreditando sempre que "o ciclismo transforma vidas", partilhamos um vídeo produzido pela fabricante de bicicletas norte-americana Specialized.



Dado Galvão é ciclista, documentarista de inspiração católica, idealizador do Movimento @cicloolhar, março/2025. Cicloolhar.blogspot.com